O vizinho

Não, não, o meu vizinho é que é. É uma coisa fora do normal.
40 e tal anos, voz em falsete, chato.
Acorda a cantar ou uma opereta ou o “Besa-me mucho”. De seguida pode passar para o abrir e fechar de armários a tal velocidade que deve haver tufão dentro do quarto, ou então para a valente mudança de água às azeitonas com pontaria do corredor para a sanita, ou a barulheira não seria tanta... isto tudo sempre a cantar! Depois acalma um bocadinho e eis que começa a cavalgada. Desce as escadas em estilo manada de búfalos! Fantástico! E sai! E eu também. Porque tem de ser.
Ao fim do dia, normalmente, não lhe dá para cantar mas para tocar: ou um jambé ou um CD qualquer, mas para a rua toda! Partilha! Se encontra alguém na rua não lhe escapa, debita conversa com o mais novo ou o mais velho, desde que lhe permita opinar sobre a vida alheia... “oh, faça antes assim...olhe que eu acho que...” Eu fujo. “Falo” com ele por recadinhos na porta com fita-cola e mais nada. A semana passada comprou um “home cinema”. Estreou com um filme de guerra. De repente o meu apartamento transformou-se numa trincheira debaixo de fogo. É tolinho, é o que eu penso. Ah, e é meu senhorio.
Mas eu gosto do meu bairro, da minha casinha... tem quintal. E vizinho é só um! Aguenta!